Por José Roberto Garib
Pouco tempo atrás, vinha sendo acometido por intensos pensamentos sobre morte, término e impossibilidades, ideias trágicas de final sem esperança.
Tudo começou com o pensar da fatídica iminência da morte dos meus pais. Quero ressaltar que eles ainda estão vivos e com saúde, porém sabemos de que ninguém escapará dela.
Sofria com tais pensamentos, perdia o sono e demorava a dormir e, por consequência de tudo isso, os meus sentimentos também foram perturbados, me desequilibrando totalmente, fazendo emergir uma forte confusão.
Tellegen, que é uma referência na Gestat-terapia, nos fala um pouco sobre como passar pela confusão, quando cita: “Mudar é tornar-se o que já é; o árido é fértil. Não tentar dominar uma dor pela supressão, mas acompanhá-la atentamente, é um meio para não ser dominado por ela; permanecendo no vazio, encontra-se o pleno; o momento do caos prenuncia uma nova ordenação desde que não se tente impor ordem”. (Tellegen, 1984, p.42)
Partir disso, percebi que havia algo verdadeiro para uma pessoa de 30 anos com os pais com mais de 60 mas, mesmo assim, me empenhei em buscar um sentido para esse evento. O que isso falava de mim?
A parte que mais me fascina no trabalho clínico com a Gestalt-terapia é a chamada Teoria paradoxal da mudança. Essa teoria de Arnold Beisser foi escrita em 1970, e tendo aparecido pela primeira vez no livro de Fagan e Shepherd, Gestalt-terapia: teoria, técnicas e aplicações (1980) é uma das mais citadas na literatura da Gestalt-terapia.
Beisser (in Fagan, 1980, p. 110) define resumidamente essa teoria: “Eu chamo-lhe a teoria paradoxal da mudança por motivos que se tornarão óbvios. Em poucas palavras, consiste nisso: a mudança ocorre quando uma pessoa se torna o que é, não quando tenta converter-se no que não é”
Mesmo com muito medo, me permiti vivenciar tais pensamentos e fui em direção a eles e sabe o que encontrei quando me deparei com a morte? Eu vi a vida!Foi então que descobri que o que me assustava não era a morte e sim o medo da vida. Reconheço que, na prática, para alcançar esse estado de autopercepcão é muito difícil, sei que é preciso ter uma pessoa que olhe e acolhe, que possa estender a mão para caminhar junto, facilitando o doloroso e arriscado processo de passagem.
No atendimento clínico, o Gestalt-terapeuta estimula a pessoa a experimentar esses papéis conflituosos (o que é, e o que gostaria de ser), para que ela possa chegar ao que é; para que lhe seja possível escolher o ruma a seguir na vida.
Segundo Ribeiro (2006, p.149) Trabalhar paradoxalmente é colocar o cliente diante de suas possibilidades reais para, ao vivenciar suas contradições internas, descobrir que o risco é o cotidiano da existência, e que a palavra “fácil” não pertence ao vocabulário dos adultos, e sim das crianças.
Essa teoria me encanta, pois a experienciei e cheguei à conclusão, através da sensação de medo trazido por tais pensamentos, os quais me tiraram o sono, de que quanto mais eu conheço as prisões mais me liberto. Havia uma briga entre o medo e o meu sistema de defesa emocional, que o punha pra fora nas investidas de invasão. É por muito enfrentar a morte que encontro a vida.
Porém, cabe ressaltar a importância do respeito do terapeuta ao ritmo, às possibilidades e aos limites do cliente no processo terapêutico. Lima (2005, p.144) nos diz a esse respeito que: Se o outro nos chega usando uma armadura pesada, que restringe seus movimentos e sua espontaneidade, não é nosso dever retirá-la. Até porque, neste ato, podemos no mínimo invadir ou machucar a outra pessoa. Podemos sim é apontá-la, funcionar um pouco como espelho, um pouco como mímico e ir deixando a outra pessoa “se dar conta” de que está “armada”. Só ela pode fazer a escolha se quer continuar assim, ou seja, continuar sendo sempre do mesmo modo, ou se irá se permitir ser diferente.
Esse texto nasceu da morte, a criação deste blog veio da ressurreição da vida.
Hoje, curiosamente, comprei novas cordas para o meu velho violão.Posso deixar uma sugestão? Não afaste os pensamentos ruins, integre-os aos bons para ajudá-lo nas tuas escolhas... Não deixe de voar por medo da queda, se permita ir mais além.
FAGAN, J. SHEPHERD, I.L. Gestalt-terapia: teoria, técnica e aplicações. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
LIMA, P. V. A. Psicoterapia e mudança – uma reflexão. 2005. Tese (Doutorado) – Instituto de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro.
RIBEIRO, J. P. vade-mécum de Gestalt-terapia: conceitos básicos. São Paulo: Summus, 2006.
TELLEGEN, T. A. Gestalt e grupos: uma perspectiva sistêmica. São Paulo: Summus, 1984.
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