terça-feira, 8 de novembro de 2011

FRUSTRAÇÃO

Postado por José Roberto Garib



Quero tomar como exemplo esta citação de Clarice Lispector que diz: “Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... Continuarei a escrever!”

Para mim, esta frase remete à ideia de duvidas e insatisfações com o não encontrar respostas que sejam convincentes para alguns momentos da vida.

Por exemplo, eu, agora, me sinto tremendo por dentro, indeciso e cheio de pensamentos de derrota e desesperança e, na medida em que o tempo passa, a força desprendida por mim na minha caminhada, parece não trazer os frutos da luta.

Tenho passado por um momento em que sou acometido por diversos pensamentos que despertam em mim muita raiva e até porque não dizer impotência quanto ao amanhã.

O fato de eu ter uma infinidade de perguntas ainda sem respostas, me deixa frustrado, por isso fico com o que eu posso e o que me resta, as teclas deste computador. Escrever se torna um bom caminho na busca de entendimento que anseio contemplar nesta parceria com a minha incentivadora Clarice.

Frustração é uma tensão que faz parte do desenvolvimento das relações do ser humano com seu contexto social, inclusive da relação terapêutica. Surge nas situações do dia-a-dia, no contato com o mundo que nos rodeia, nos momentos que não conseguimos ser satisfeitos em nossos desejos e necessidades: “[...] a tensão  surgida da necessidade de um fechamento é chamada frustração [...]” (Perls, 1979, p.107).

Uma relação verdadeiramente satisfatória e saudável entre quaisquer duas pessoas exige de cada uma a habilidade para misturar simpatia com frustração. A pessoa saudável não desconsidera as necessidades dos outros nem permite que as suas sejam desconsideradas. (Perls, 1985, p. 117)

Agora pergunto o que a frustração tem de positivo? Faz mal senti-la?

A vivência da frustração, a princípio, não é danosa, podendo sim ser extremamente saudável. É fundamental para o processo de desenvolvimento do ser humano que permita ao indivíduo, desde criança, viver frustrações, na medida de sua habilidade para assimilá-las.

Neste contexto, o indivíduo pode aprender a superar as situações sociais, em vez de apenas manipulá-las para diminuir seus efeitos (como no caso das neuroses).

[...] cada vez que o mundo adulto impede a criança de crescer, cada vez que ela é minada por não ser frustrada o suficiente, a criança está presa. Assim, em vez de usar seu potencial para crescer, ela agora usará seu potencial para controlar o mundo, os adultos.

Em vez de mobilizar seus próprios recursos, ela cria dependências. Ela investe sua energia na manipulação do ambiente para obtenção de apoio. Ela controla os adultos, começando a manipulá-los ao descriminar seus pontos fracos. (Perls, 1977, p.55)

“Se, contudo, a frustração persistir além da ansiedade  que a criança é capaz de suportar, ela se sente muito mal”. [...] A criança sofreu um trauma, que se repetirá sempre que ocorrer uma frustração real” (Perls, 2002, p. 95).

Fritz Perls ficou conhecido como grande e hábil frustrador, e descreve a importância da frustração na relação terapêutica em consonância com seu entendimento do papel da frustração no desenvolvimento humano.

Ele considera que, por meio da frustração habilidosa, o terapeuta pode proporcionar ao cliente a oportunidade de entrar em contato com suas inibições, bloqueios, medos etc., facilitando a mobilização de seu próprio potencial para lidar com o mundo ao seu redor.

Primeiro, o terapeuta proporciona a oportunidade de a pessoa descobrir o que necessita [...]. Então o terapeuta deve proporcionar a oportunidade, a situação na qual a pessoa possa crescer. E o meio é frustrarmos o paciente de tal forma que ele seja forçado a desenvolver o seu próprio potencial. (Perls, 1977, p. 61)

[O terapeuta] deve, então, aprender a trabalhar com simpatia e ao mesmo tempo com frustração. Pode parecer que estes dois elementos são incompatíveis, mas a arte do terapeuta é fundi-los num instrumento efetivo. Ele deve ser duro para ser bondoso. Deve ter uma percepção abrangente da situação total, deve ter contato com o campo total – tanto de suas próprias necessidades e reações as manipulações do paciente quanto das necessidades e reações do paciente ao terapeuta. E deve sentir-se livre para expressá-las. (Perls, 1985, p.117)

Porém, cabe ressaltar a importância do uso adequado da frustração no contato com cada cliente. “O paciente excessivamente frustrado sofrerá, mas não crescerá. E descobrirá, com a intuição perspicaz e visão distorcida do neurótico, todos os tipos de maneiras para evitar a frustração de longo alcance que o terapeuta lhe impõe” (Perls, 1985, p. 120).    



Perls, F.S. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de janeiro: Zahar, 1985.

____. (1947). Ego, fome e agressão. São Paulo: Summus, 2002.

____. Escarafunchando Fritz: dentro e fora da lata do lixo. São Paulo: Summus, 1979.

____. Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977.

Baseado no texto de Márcia Estarque Pinheiro em Dicionário de Gestalt-terapia – “Gestaltês, 2007.


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A TRANSMUTAÇÃO POR MEIO DA EXPERIÊNCIA

Por José Roberto Garib 

A experiência recebe uma ênfase muito grande no livro de PHG de 1951 quando é citada pelos autores de que: “A experiência se dá na fronteira entre o organismo e seu ambiente, primordialmente a superfície da pele e os outros órgãos de resposta sensorial e motora”. Mais especificamente: “A experiência é função dessa fronteira...” (PHG, 1997, p. 41)

Hoje trago mais uma história que vivi em um lugar onde a imaginação flui... Neste ponto, passava um senhor que surgiu inesperadamente, ele já era muito velho e corcunda, trajava um longo sobretudo verde militar e um cachecol de lã azul escuro, sua cabeça era alva como a neve. Ele caminhava a passos curtos e cansados pelo tempo, sustentado em uma resistente bengala de madeira.

Ele ia com muita dificuldade passando por algumas mesas e cadeiras espalhadas por toda parte onde a plateia despercebida estava, em direção a um piano. Bem ao lado do piano, havia duas malas gigantes no caminho do velho, em uma das quais ele colocou sua bengala. E como num processo alquímico, algo mágico aconteceu.

A alquimia é uma tradição antiga que combina elementos de química, física, astrologia, arte, metalurgia, medicina, misticismo e religião. Ela, quando empregada pelos egípcios, referia-se a transmutação do ouro e da prata. O principal objetivo de um alquimista é a Pedra Filosofal, porque com ela, o alquimista poderia transmutar qualquer metal inferior em ouro, como também obter o Elixir da Longa Vida, que permitia prolongar a vida indefinidamente.

Na verdade a Pedra Filosofal é uma metáfora para uma mudança interior do ser humano, ou seja, a evolução de um ser de um estado inferior para um estado superior.

Aquele senhor tomou seu lugar, abriu o piano e a transmutação magicamente aconteceu ao toque dos dedos daquele velho ao marfim das teclas brancas e pretas, surgiu a Pedra Filosofal, o Elixir da Vida Longa... A música! A plateia que outrora estava cega foi tomada por um brilho da mais refinada luz, trazida por um velho fraco convertido em um jovem intenso cheio de vida.

As claves espalharam espanto pelo ar. Eu, como ser humano inferior, fui transformado em ouro por essa experiência real.

Assim, podemos conceber a Gestalt-terapia como um convite à experiência. Perls, em Gestalt-terapia explicada (1977, p. 80), disse: “O que eu faço como psicoterapeuta é trabalhar como catalisador [...] provocando situações nas quais a pessoa possa experimentar...”. Ainda em relação ao papel do psicoterapeuta, ele acreditava que nós, Gestalt-terapeutas, “[...] pegamos toda a experiência e a espalhamos [...] espalhamos [...]- a parte que está viva” (Perls, 1977, p. 80)

Esse senhor elevou o som daquele piano de forte madeira antiga, sem marcas do tempo de cor preta, conduzindo as pessoas que sentavam ao seu redor a vivenciarem, na fronteira de contato, uma situação de vida, despertando o senso de realidade de cada um como ser humano único e em relação com outro. Os poros dos nossos braços se abriram, recebendo esse sentir.

Quanto à função da técnica nessa abordagem, encontramos: “[...] minha técnica evolui cada vez mais no sentido de nunca, nunca interpretar. Apenas espalhar (back-feeding*), provendo uma oportunidade para a outra pessoa descobrir a si mesma”. (Perls, 1977, p. 168)

Talvez seja esse o meu papel hoje, o de alquimista, na tentativa de transformar essa experiência inexplicável vivida por mim em palavras, à você que lê, e como psicoterapeuta estimulando o cliente que viva suas experiências e se experimente, no aqui e agora, do modo mais espontâneo possível. Ouça a musica da vida!


Baseado no texto escrito por Patrícia Lima (Ticha) contido no Dicionário de Gestalt-terapia: “Gestaltês”/ Gladys D’Acri, Patrícia Lima, Sheila Orgler, p.100 – São Paulo: Summus, 2007.

*A expressão back-feeding (“espelhar”) sugere que é papel do psicoterapeuta dar feedbacks (retornos) constantes a seu cliente, partindo de sua própria experiência.

Perls, F.S; Hefferline, R; Goodman, P. (1951) Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.

Perls, Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977.






sábado, 10 de setembro de 2011

MORTE

Por José Roberto Garib

Pouco tempo atrás, vinha sendo acometido por intensos pensamentos sobre morte, término e impossibilidades, ideias trágicas de final sem esperança.

Tudo começou com o pensar da fatídica iminência da morte dos meus pais. Quero ressaltar que eles ainda estão vivos e com saúde, porém sabemos de que ninguém escapará dela.

Sofria com tais pensamentos, perdia o sono e demorava a dormir e, por consequência de tudo isso, os meus sentimentos também foram perturbados, me desequilibrando totalmente, fazendo emergir uma forte confusão.

Tellegen, que é uma referência na Gestat-terapia, nos fala um pouco sobre como passar pela confusão, quando cita: “Mudar é tornar-se o que já é; o árido é fértil. Não tentar dominar uma dor pela supressão, mas acompanhá-la atentamente, é um meio para não ser dominado por ela; permanecendo no vazio, encontra-se o pleno; o momento do caos prenuncia uma nova ordenação desde que não se tente impor ordem”. (Tellegen, 1984, p.42)

Partir disso, percebi que havia algo verdadeiro para uma pessoa de 30 anos com os pais com mais de 60 mas, mesmo assim, me empenhei em buscar um sentido para esse evento. O que isso falava de mim?

A parte que mais me fascina no trabalho clínico com a Gestalt-terapia é a chamada Teoria paradoxal da mudança. Essa teoria de Arnold Beisser foi escrita em 1970, e tendo aparecido pela primeira vez no livro de Fagan e Shepherd, Gestalt-terapia: teoria, técnicas e aplicações (1980) é uma das mais citadas na literatura da Gestalt-terapia.

Beisser (in Fagan, 1980, p. 110) define resumidamente essa teoria: “Eu chamo-lhe a teoria paradoxal da mudança por motivos que se tornarão óbvios. Em poucas palavras, consiste nisso: a mudança ocorre quando uma pessoa se torna o que é, não quando tenta converter-se no que não é”

Mesmo com muito medo, me permiti vivenciar tais pensamentos e fui em direção a eles e sabe o que encontrei quando me deparei com a morte? Eu vi a vida!Foi então que descobri que o que me assustava não era a morte e sim o medo da vida. Reconheço que, na prática, para alcançar esse estado de autopercepcão é muito difícil, sei que é preciso ter uma pessoa que olhe e acolhe, que possa estender a mão para caminhar junto, facilitando o doloroso e arriscado processo de passagem.

No atendimento clínico, o Gestalt-terapeuta estimula a pessoa a experimentar esses papéis conflituosos (o que é, e o que gostaria de ser), para que ela possa chegar ao que é; para que lhe seja possível escolher o ruma a seguir na vida.

Segundo Ribeiro (2006, p.149) Trabalhar paradoxalmente é colocar o cliente diante de suas possibilidades reais para, ao vivenciar suas contradições internas, descobrir que o risco é o cotidiano da existência, e que a palavra “fácil” não pertence ao vocabulário dos adultos, e sim das crianças.

Essa teoria me encanta, pois a experienciei e cheguei à conclusão, através da sensação de medo trazido por tais pensamentos, os quais me tiraram o sono, de que quanto mais eu conheço as prisões mais me liberto. Havia uma briga entre o medo e o meu sistema de defesa emocional, que o punha pra fora nas investidas de invasão. É por muito enfrentar a morte que encontro a vida.

Porém, cabe ressaltar a importância do respeito do terapeuta ao ritmo, às possibilidades e aos limites do cliente no processo terapêutico. Lima (2005, p.144) nos diz a esse respeito que: Se o outro nos chega usando uma armadura pesada, que restringe seus movimentos e sua espontaneidade, não é nosso dever retirá-la. Até porque, neste ato, podemos no mínimo invadir ou machucar a outra pessoa. Podemos sim é apontá-la, funcionar um pouco como espelho, um pouco como mímico e ir deixando a outra pessoa “se dar conta” de que está “armada”. Só ela pode fazer a escolha se quer continuar assim, ou seja, continuar sendo sempre do mesmo modo, ou se irá se permitir ser diferente.

Esse texto nasceu da morte, a criação deste blog veio da ressurreição da vida.
Hoje, curiosamente, comprei novas cordas para o  meu velho violão.

Posso deixar uma sugestão? Não afaste os pensamentos ruins, integre-os aos bons para ajudá-lo nas tuas escolhas... Não deixe de voar por medo da queda, se permita ir mais além.  



FAGAN, J. SHEPHERD, I.L. Gestalt-terapia: teoria, técnica e aplicações. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.

LIMA, P. V. A. Psicoterapia e mudança – uma reflexão. 2005. Tese (Doutorado) – Instituto de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro.

RIBEIRO, J. P. vade-mécum de Gestalt-terapia: conceitos básicos. São Paulo: Summus, 2006.

TELLEGEN, T. A. Gestalt e grupos: uma perspectiva sistêmica. São Paulo: Summus, 1984. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A EXPERIÊNCIA COMO TRABALHO TERAPÊUTICO

 

Por José Roberto Garib

Olá, pessoal!Sou uma pessoa que gosta de movimento, envolvimento e....Caminhar! Fui criança em uma cidade pequena e por ser pequena, aprendi a fazer tudo a pé. Aprendi a arte do perceber ao explorar as ruas e brincadeiras, assim como o aprendizado que elas trazem, as sensações e sentimentos que elas despertam. Observar significa “seguir as diversas fases de” (dicionário Priberam da língua Portuguesa, on line). Com essa observação, aprendi a lidar com as pessoas, a reconhecê-las e a contatar todas as coisas que estavam ao meu redor, juntando as partes que registrava de um todo que hoje se configura em mim. A poesia, a melodia, as cores da primavera e o estourar das jabuticabas colhidas do pé ao serem prensadas entre os dentes com doce sabor, o bem-te-vi a cantar nas antenas ao amanhecer. Os sentidos, o tato, o olfato...... e significados são habilidades que ainda trago. Tornei-me sensível às nuances que compõem a relação entre as pessoas, assim como as diversas coisas as cercam.

Recentemente estava num ponto privilegiado de execução de algumas funções de contato: Encontrava-me no terminal do Tiete esperando a hora do embarque e constatei que existe uma infinidade de sons e cores que até dificultam a seletividade natural de nossas sensações.

Apesar de alta a música que vem do café onde estava,  ouvia também o funcionário do café passando uma espátula no chão, um anuncio no alto falante, o barulho do motor dos ônibus chegando e saindo das plataformas. O cheiro forte de um produto de limpeza que não sei qual é, o barulho da maquina de café se misturando com o gosto do adoçante em minha boca. A textura crocante e rachada do pão de queijo por fora e a sua maciez por dentro.

E o que direi das cores de dentro do terminal a meia luz como raios de sol sendo bloqueados na sala de estar de uma quarta a tarde, trazidos pela junção das estruturas de grosso concreto com o piso marrom, que olhando de longe refletem a luz fluorescente vinda das lojas. A impressão que me dava é que o tom amarronzado não é quebrado pelo colorido das placas de sinalização rosa, verde, azul com branco e tantas outras dos televisores espalhados por vários pilares e até das lojas e balcões que preenchiam aquele gigante espaço sonorizado por palavras soltas no ar.

Assim, caminho pelas teclas deste blog na internet, apresentando um pouco de mim e de meu trabalho como psicoterapeuta. A riqueza da diversidade é uma forma de crescimento pessoal. Sigo uma abordagem psicoterápica que explana e auxilia o crescimento pessoal. Acredito no desenvolvimento do ser humano, através do conhecimento de si próprio... O crescimento pessoal que almejo em mim, o qual tomo como filosofia, agregado aos ideais psicológicos que dispõem a abordagem gestáltica que eu estudo, se torna um poderoso instrumento de ajuda ao outro no enfrentamento dos mais diversos conflitos que afligem a condição humana.




GESTALT-TERAPIA


O que é Gestalt-terapia?





 


Diante da dificuldade de tradução da palavra alemã “Gestalt” para as demais línguas, adota-se no vocabulário da Gestalt-terapia o termo no original. Lê-se Guestalt. Fritz Perls escreveu:

Gestalt é uma palavra alemã para a qual não há tradução equivalente em outra língua. Uma Gestalt é uma forma, uma configuração, o modo particular de organização das partes individuais que entram em uma composição. A premissa básica da psicologia da Gestalt é que a natureza humana é organizada em partes ou todos, que é vivenciada pelo indivíduo nestes termos, e que só pode ser entendida como uma função das partes ou todos dos quais é feita.

A Gestalt-terapia surge como resposta às críticas e reformulações que um neuropsiquiatra alemão chamado Frederick Salomon Perls desenvolveu em relação à psicanálise, sua formação inicial. Visando abandonar a postura associacionista preponderante na ciência da época, cada vez mais encontra na psicologia da Gestalt um novo recurso teórico. Em 1969, no lançamento da segunda edição de seu livro chamado Ego, Fome e Agressão, Fritz Perls dedicou o mérito desta edição ao principal estudioso da psicologia da Gestalt chamdo de Max Wertheimer.

Wertheimer formula a teoria da Gestalt afirmando que existem totalidades cujo comportamento não é determinado pelo de seus elementos individuais, mas onde os processos parciais são determinados pela natureza intrínseca dessas totalidades. A esperança da teoria da Gestalt é determinar a natureza de tais totalidades.

Os princípios fundamentais para a criação da abordagem da Gestalt-terapia foram incorporados da psicologia da Gestalt, que é uma escola psicológica de pensamento alemão surgida em 1912 que tinha como foco de estudo a percepção e a relação do organismo com seu meio, a memória, a inteligência, a expressão e a personalidade como um todo e o conceito de Gestalt como uma unidade de referência adequada para pensar os todos sobre os quais o princípio da autorregulacão impera.

Perls também compreendia o processo de autorregulação organísmica como cíclico, havendo o surgimento permanentemente de energia de novas necessidades e resolução das antigas. Entendemos esse ciclo como o ciclo da Gestalt, que, quando é completado de modo satisfatório, resulta em um fechamento de Gestalt. Em analogia a essa noção, podemos pensar que, quando não há uma resolução desse ciclo, forma-se uma Gestalt incompleta ou aberta, o que caracteriza uma situação inacabada.

A mãe acordada pelo choro do bebê não se contentará em deitar confortavelmente em sua cama, ouvindo o lamento de sua cria. Fará algo para eliminar a perturbação. Tentará satisfazer as necessidades do bebê, e quando estiverem satisfeitas, ela também poderá voltar a dormir.

Só descansamos quando a situação estiver terminada e a gestalt fechada para que então a próxima situação inacabada possa acontecer, o que quer dizer que nossa vida é um número infinito de gestalten incompletas. Logo que uma necessidade é satisfeita, vem outra.

A Gestalt-terapia é uma terapia existencial-fenomenológica fundada por Fritz e Laura Perls na década de 1940. Ela ensina a terapeutas e pacientes o método fenomenológico de awareness, que significa a ampliação da capacidade de dar-se conta do que acontece com a pessoa e o seu ambiente,no qual perceber, sentir e atuar são diferenciados de interpretar e modificar atitudes preexistentes.

Explicações e interpretações são consideradas menos confiáveis do que aquilo que é diretamente percebido ou sentido. Pacientes e terapeutas, em Gestalt-terapia, dialogam, isto é, comunicam suas perspectivas fenomenológicas. As diferenças de perspectivas tornam-se um foco de experimentação e de diálogo continuado.

O objetivo é tornar os clientes conscientes (aware) do que estão fazendo, como estão fazendo, como podem transformar-se e, ao mesmo tempo em que aprendem aceitam-se e valorizam-se.
A Gestalt-terapia focaliza mais o processo (o que está acontecendo) do que o conteúdo (o que está sendo discutido). A ênfase localiza-se no que está sendo feito, pensado e sentido no momento e não no que era, poderia ser, conseguiria ser ou deveria ser.

Portanto a Gestal-terapia pode ser considerada mais uma exploração do que uma modificação direta do comportamento. O objetivo é o crescimento e a autonomia, com um aumento de consciência (consciousness). Em vez de manter distância e interpretar, o Gestalt-terapeuta encontra os pacientes e direciona um trabalho de awareness ativo.

A presença ativa do terapeuta é viva e entusiasmada (calorosa), honesta e direta. O paciente consegue ver e ser informado de como ele está sendo experienciado, o que está sendo visto, como o terapeuta se sente, e como ele é como pessoa. O crescimento ocorre no contato real com pessoas reais.

Os pacientes aprendem como estão sendo vistos e como os seus processos de awareness são limitados. A abordagem geral da Gestalt-terapia é facilitar a exploração de formas que maximizem aquilo que continua a se desenvolver depois da sessão, sem o terapeuta. O paciente é frequentemente deixado incompleto, mas reflexivo, pensativo, “aberto” ou com uma tarefa.

Isto é, em parte, como a Gestalt-terapia consegue ser tão intensiva, com menos sessões por semana. A psicoterapia bem-sucedida consegue integração. Integração exige identificação com todas as funções vitais - não apenas com algumas ideias, emoções e ações do paciente.

Qualquer rejeição das próprias ideias, ações ou emoções resulta em alienação. Recuperar a aceitação permite à pessoa ser inteira. Então, a tarefa da Gestalt-terapia é conseguir que a pessoa tome consciência de partes anteriormente alienadas. Experimentá-las, considerá-las e assimilá-las, se forem ego-sintônicas, ou rejeitá-las se forem ego-distônicas.
Assim como o óleo, a farinha ou o fermento podem ter um sabor próprio, não agradável, são indispensáveis para o sucesso do bolo inteiro.