Postado por José Roberto Garib
Quero tomar como exemplo esta citação de Clarice Lispector que diz: “Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... Continuarei a escrever!”
Para mim, esta frase remete à ideia de duvidas e insatisfações com o não encontrar respostas que sejam convincentes para alguns momentos da vida.
Por exemplo, eu, agora, me sinto tremendo por dentro, indeciso e cheio de pensamentos de derrota e desesperança e, na medida em que o tempo passa, a força desprendida por mim na minha caminhada, parece não trazer os frutos da luta.
Tenho passado por um momento em que sou acometido por diversos pensamentos que despertam em mim muita raiva e até porque não dizer impotência quanto ao amanhã.
O fato de eu ter uma infinidade de perguntas ainda sem respostas, me deixa frustrado, por isso fico com o que eu posso e o que me resta, as teclas deste computador. Escrever se torna um bom caminho na busca de entendimento que anseio contemplar nesta parceria com a minha incentivadora Clarice.
Frustração é uma tensão que faz parte do desenvolvimento das relações do ser humano com seu contexto social, inclusive da relação terapêutica. Surge nas situações do dia-a-dia, no contato com o mundo que nos rodeia, nos momentos que não conseguimos ser satisfeitos em nossos desejos e necessidades: “[...] a tensão surgida da necessidade de um fechamento é chamada frustração [...]” (Perls, 1979, p.107).
Uma relação verdadeiramente satisfatória e saudável entre quaisquer duas pessoas exige de cada uma a habilidade para misturar simpatia com frustração. A pessoa saudável não desconsidera as necessidades dos outros nem permite que as suas sejam desconsideradas. (Perls, 1985, p. 117)
Agora pergunto o que a frustração tem de positivo? Faz mal senti-la?
A vivência da frustração, a princípio, não é danosa, podendo sim ser extremamente saudável. É fundamental para o processo de desenvolvimento do ser humano que permita ao indivíduo, desde criança, viver frustrações, na medida de sua habilidade para assimilá-las.
Neste contexto, o indivíduo pode aprender a superar as situações sociais, em vez de apenas manipulá-las para diminuir seus efeitos (como no caso das neuroses).
[...] cada vez que o mundo adulto impede a criança de crescer, cada vez que ela é minada por não ser frustrada o suficiente, a criança está presa. Assim, em vez de usar seu potencial para crescer, ela agora usará seu potencial para controlar o mundo, os adultos.
Em vez de mobilizar seus próprios recursos, ela cria dependências. Ela investe sua energia na manipulação do ambiente para obtenção de apoio. Ela controla os adultos, começando a manipulá-los ao descriminar seus pontos fracos. (Perls, 1977, p.55)
“Se, contudo, a frustração persistir além da ansiedade que a criança é capaz de suportar, ela se sente muito mal”. [...] A criança sofreu um trauma, que se repetirá sempre que ocorrer uma frustração real” (Perls, 2002, p. 95).
Fritz Perls ficou conhecido como grande e hábil frustrador, e descreve a importância da frustração na relação terapêutica em consonância com seu entendimento do papel da frustração no desenvolvimento humano.
Ele considera que, por meio da frustração habilidosa, o terapeuta pode proporcionar ao cliente a oportunidade de entrar em contato com suas inibições, bloqueios, medos etc., facilitando a mobilização de seu próprio potencial para lidar com o mundo ao seu redor.
Primeiro, o terapeuta proporciona a oportunidade de a pessoa descobrir o que necessita [...]. Então o terapeuta deve proporcionar a oportunidade, a situação na qual a pessoa possa crescer. E o meio é frustrarmos o paciente de tal forma que ele seja forçado a desenvolver o seu próprio potencial. (Perls, 1977, p. 61)
[O terapeuta] deve, então, aprender a trabalhar com simpatia e ao mesmo tempo com frustração. Pode parecer que estes dois elementos são incompatíveis, mas a arte do terapeuta é fundi-los num instrumento efetivo. Ele deve ser duro para ser bondoso. Deve ter uma percepção abrangente da situação total, deve ter contato com o campo total – tanto de suas próprias necessidades e reações as manipulações do paciente quanto das necessidades e reações do paciente ao terapeuta. E deve sentir-se livre para expressá-las. (Perls, 1985, p.117)
Porém, cabe ressaltar a importância do uso adequado da frustração no contato com cada cliente. “O paciente excessivamente frustrado sofrerá, mas não crescerá. E descobrirá, com a intuição perspicaz e visão distorcida do neurótico, todos os tipos de maneiras para evitar a frustração de longo alcance que o terapeuta lhe impõe” (Perls, 1985, p. 120).
Perls, F.S. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de janeiro: Zahar, 1985.
____. (1947). Ego, fome e agressão. São Paulo: Summus, 2002.
____. Escarafunchando Fritz: dentro e fora da lata do lixo. São Paulo: Summus, 1979.
____. Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977.
Baseado no texto de Márcia Estarque Pinheiro em Dicionário de Gestalt-terapia – “Gestaltês, 2007.